02/07/2025 às 16:25

A neurodivergência e a fotografia infantil.

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5min de leitura

Fazer uma boa foto de crianças é um desafio. Agora, imagine tentar fazer um ensaio de uma criança neurodivergente.

Pois é, é um desafio triplo. Mas eu tenho algumas técnicas que facilitam o processo, e, se seu filho é uma criança atípica, hoje você vai perceber que ele pode ter as melhores memórias afetivas de uma forma muito simples.

Vamos lá?

A neurodivergência

Você sabe o que significa o termo neurodivergência?

Neurodivergentes são pessoas cujo desenvolvimento ou funcionamento neurológico diverge do padrão considerado típico. Podemos considerar como neurodivergentes pessoas com TDAH, transtorno do espectro autista, dislexia, entre outros.

Partindo desse ponto, já podemos presumir que, para cada criança, precisamos de uma forma diferente de agir.

Mas como saber por onde começar?

O Francisco é autista nível 2 de suporte e este ensaio foi feito no Parque Central de Santo André.

A conversa

O primeiro passo, antes de qualquer ensaio, aqui na Creare, é organizar uma reunião com a família. Essa reunião serve para fazer um planejamento prévio.

Nela, decidimos os conceitos do ensaio, as roupas que serão utilizadas e, principalmente, é o momento de conhecer a família e entender a personalidade das crianças.

Sempre procuro entender quais brincadeiras a criança gosta, se ela é mais introvertida ou extrovertida. Dessa forma, sei quais atividades adicionar ao roteiro lúdico do ensaio e também conheço a abordagem mais adequada, além do tempo que precisarei para criar uma conexão com a criança.

A Maria Clara tem paralisia cerebral.


Dê tempo

As crianças precisam de tempo para adaptação.

Imagine a seguinte situação: você está em um lugar desconhecido, com pessoas que nunca viu na vida, dando ordens e pedindo para fazer coisas.

Desconfortável, não é mesmo?

As crianças precisam de tempo para se adaptar ao ambiente e criar uma conexão com o fotógrafo. Só assim elas se sentirão confortáveis e seguras.

O Caio é autista não verbal e durante o ensaio deixamos ele bem livre para explorar o parque.


Utilize brincadeiras

Crianças são seres lúdicos.

Para mantê-las completamente confortáveis, sem desregulá-las ou retirá-las de sua zona de conforto, é fundamental manter uma comunicação constante com a família. Isso permite entender as preferências da criança, os elementos que mais chamam sua atenção e como incorporar brincadeiras que tornarão o ensaio natural e quase imperceptível para ela.

É essencial que a criança se sinta envolvida em uma de suas brincadeiras favoritas durante o ensaio. Dessa forma, é possível capturar fotos incríveis e garantir que a família esteja feliz e satisfeita com a experiência. Respeitar as preferências da criança e tornar o ensaio uma atividade lúdica e divertida é a chave para obter resultados fantásticos.

A fotografia de crianças atípicas não é apenas sobre fotos bonitas — é sobre criar memórias afetivas e proporcionar um momento de diversão para as famílias. É importante ter isso em mente para que as fotos, além de lindas, sejam lembranças para o futuro.

O Eliel é autista e esta foto foi ele mesmo que pediu.


Transforme o momento em uma grande brincadeira e não terá dificuldade nenhuma para fazer o ensaio mais bonito de todos.

O local

Não é uma regra, mas, principalmente em ensaios com crianças com transtorno do espectro autista, o ensaio ao ar livre costuma ser muito mais fácil, pois a criança tem espaço para explorar e soltar a criatividade.

A Margarete faz ensaios comigo todos os anos e, certa vez, me contou sobre um dia em que tentou fazer um ensaio em estúdio. Era um ensaio de Natal, e ela disse que o Miguel não quis nem passar da porta. Foi uma frustração, e o ensaio nem aconteceu.

O Miguel é autista nível 3 de suporte e sempre que fazemos ensaios ele fica livre para explorar o ambiente até que sinta-se confortável.


Geralmente, estúdios têm tempo limitado e exigem que tudo aconteça rapidamente, o que não dá à criança o tempo necessário para conhecer o ambiente e se adaptar.

Desde que a Margarete fez o primeiro ensaio comigo, ela nunca mais fez diferente.

Ensaio fotográfico de dia das mãe.


Eu fotografo muitas crianças autistas e sei que cada uma tem seu jeitinho especial. Às vezes, precisamos de um ensaio mais longo, outras vezes, mais curto. Isso conseguimos definir no primeiro contato com a família.

Outra tática que gosto bastante é criar um vínculo de amizade com as famílias. Quando temos uma conexão maior com o adulto responsável, a criança percebe que está segura.

O último ensaio que fiz com a Margarete e o Miguel foi desafiador. No começo, o Miguel não quis vestir a roupa nem o sapato que havíamos separado.

Com paciência e carinho, a mamãe e o primo conseguiram vesti-lo, mas o sapato... esse não rolou. E está tudo bem!

Achamos que ele não usaria a boina, e ele surpreendeu, ficou com ela o tempo todo!

O Miguel quis andar pelo parque, explorar o ambiente e nós deixamos.

Seguimos o ritmo dele, até que se sentiu confortável para ficar em um cantinho e interagir com a Margarete.

Ela entrou na brincadeira, e o resultado foi um ensaio lindo, leve, sem desregular ele.

No fim? Ele não queria mais tirar a roupa! E nós terminamos o ensaio rindo muito.

Interação entre o Miguel e a Margarete, após ele ter caminhado pelo parque.


Então, vamos fazer um resumo:

O que você precisa para fazer um ensaio fotográfico do seu filho atípico?

  • Conversar para criar conexão
  • Ter tempo hábil para que ele se adapte
  • Fazer brincadeiras e deixá-lo explorar o ambiente


Ensaio fotográfico externo da Maria Claro, realizado em Ribeirão Pires.


 Como distrair a criança?

Para distrair a criança, você pode:

  1. Inventar brincadeiras: Crie jogos e atividades divertidas que envolvam a criança e a distraiam do que está acontecendo no ensaio.
  2. Utilizar o sensorial: Explore atividades sensoriais que envolvam o tato, o olfato, o paladar, a audição e a visão. Isso pode manter a criança focada na brincadeira.
  3. Envolva a família: Inclua irmãos, mãe, pai e outros membros da família nas brincadeiras. Isso pode criar um ambiente acolhedor e divertido.
  4. Explore o imaginário: Deixe a criança soltar a imaginação e ser ela mesma. Lembre-se de que, independentemente de ser neurotípica ou neuroatípica, as crianças são, antes de tudo, crianças. A imaginação pode ser uma grande aliada para criar um ambiente de diversão no ensaio.

Sobre a autora:


Eu sou Mauri Tavares, fotógrafa infantil, e espero ter ajudado nesta caminhada para um ensaio lindo.


Se você estiver em busca de um profissional para contar a sua história, sinta-se à vontade para me chamar pelo WhatsApp, ou clica neste link para mais informações. Estou à disposição para ajudar.


02 Jul 2025

A neurodivergência e a fotografia infantil.

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Crianças atípicas Ensaio fotográfico infantil fotografia de crianças atípicas Neurodivergente

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